A palavra do momento agora é propósito. Mas que é isso afinal? Segundo o dicionário propósito («do lat[im] proposĭtu-, “intenção”») significa «deliberação; resolução; decisão» e «intento; projecto; desígnio»; quer dizer, ainda, «objecto; fim; mira» e «juízo; prudência». No plural, é «modos; jeito». Propósito é para mim também uma pergunta intrínseca a qualquer projeto.
Vivemos um momento em que a sociedade, de maneira geral, tem olhado com mais consciência para seus pensamentos, atos e reflexos disso na vida cotidiana. A informação disponível a todos e em velocidade impressionante nos obriga a sermos responsáveis e atentos ao que produzimos e entregamos ao mundo. O mercado exige auto-responsabilidade e a quantidade crescente de profissionais, estudando, se especializando e trabalhando para cuidar de como nos apresentamos no mundo, confirma essa tendência. Design com propósito é um slogan bastante repetido hoje em dia. Pergunto; existe design sem propósito?
Na minha vida pessoal, durante muito tempo não duvidei de minha escolha profissional, ser designer era uma certeza e tudo fluía apesar das dificuldades. Mas o derradeiro dia chegou e a inevitável pergunta se apresentou: É isso mesmo que eu quero fazer para o resto da vida? Crise! Onde foi parar aquela jovem que tinha energia e disposição e vontade de fazer para o mundo? Para este mundo?
Observando ao redor percebi que isso não acontecia só comigo e também não acontecia só no design, é uma crise que algumas pessoas passam com a chegada da maturidade. Se você é um ser que se enxerga no mundo, algumas perguntas mais profundas são inevitáveis e é preciso coragem para enfrentar a mudança, o novo que se apresenta.
A crise chegou para mim e a busca pelo auto-conhecimento veio junto, hoje realizo que não existe design sem auto-conhecimento, pois não existe criação e resultado eficiente sem consciência. E tudo se mistura, vida e trabalho pois, se duvidamos da criação, da idéia, do propósito o trabalho perde o sentido. Quanto mais consciente do processo criativo, mais próximos poderemos estar da solução do problema seja ele pessoal ou profissional.
Tudo isso se apresentou para mim de maneira muito profunda, pois o tamanho da certeza, de que fazer design tinha haver com meu propósito, foi também o tamanho da minha dúvida. Desde que tomei consciência dessa crise, projetei um caminho de saída que tem sido um mergulho de volta para onde comecei, uma retrospectiva. Olhar para o que aprendi, revisitar meus livros e projetos, e também de respirar, voltar e me projetar no agora, ler sobre a atualidade e o que anda se falando e fazendo sobre design. Com tantas dúvidas mais perguntas surgiram: Design existe? O que é design afinal?
Afoita em achar respostas encontrei um artigo que me trouxe muitas reflexões, algumas respostas e mais perguntas e desde então já me debrucei sobre ele algumas vezes. Marcos Beccari, Daniel B. Portuga e Stephania Padovani escreveram “Seis eixos para uma filosofia do design”, publicado na revista Estudos em Design. Fiquei fã do Marcos e comecei a persegui-lo na internet, descobri que ele é doutor em Educação na USP, graduou e fez mestrado na UFPR onde hoje é professor. Além disso é coordenador da revista/podcast: Não Obstante e autor dos livros “Articulações Simbólicas: uma nova filosofia do design” e “Antirrealismo: uma breve história das aparências” (KDP, 2019) e ainda de outros tantos artigos. Com sua grande sensibilidade (pois também é um artista) propõe uma filosofia do design um olhar maior para o que chamamos de profissão e que pode sim ser vista também como uma forma de pensar, e que eu arrisco um pouquinho mais, como um saber natural do homem.
Compartilho então aqui com vocês esse artigo incrível, que para quem ainda não teve a oportunidade de ler, recomendo fortemente. Sim é longo, e precisa ser lido com calma, uma boa pedida para este feriadão chuvoso. segue o link:
https://estudosemdesign.emnuvens.com.br/design/article/viewFile/432/262
Feliz Páscoa a todos. Feliz encontro com o novo dentro de cada um!
Sou Angélica Lira, mãe do Guido e da Letícia, Designer Gráfica autônoma, formada na UnB, com Pós graduação em Design Estratégico no IED/IESB e também com formação em Pedagogia Waldorf pela 4º turma do curso de Formação em Pedagogia Waldorf de Brasília.
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